O ser humano é cheio de certezas, algumas certezas absolutas. Não mudam de opinião por nada. Uma dessas certezas é o colesterol. Grande vilão. Se não existisse o colesterol tudo seria mais fácil. Remédios, dietas, exercícios. Sacrifícios. Ah, se não tivesse o colesterol! Mas será que ele é tão vilão assim?
Primeiro, temos que entender que o colesterol é essencial para diversos processos do nosso organismo. Está presente nas nossas membranas celulares, nos nossos neurônios, na produção de hormônios, assim como da vitamina D (dita também como hormônio). Se assim é, não podemos extingui-lo. Mas, se o colesterol é importante, porque tentamos elimina-lo?
Para responder essa pergunta, temos que entender a relação do ser humano, sua comida e sua expectativa de vida. Nos primórdios, o ser humano tinha uma escassez de alimentos ricos em colesterol, não criávamos animais. Além disso, nossa alimentação era a base de frutas, folhas, pequenos animais e insetos (acreditem!), fontes pobres de LDL e rico em fibras. Desse modo, além do pouco colesterol ingerido, ele não era absorvido devido a grande quantidade de fibras. Assim, quem tinha mais chance de sobreviver era justamente aquele indivíduo que produzia maior quantidade de colesterol. Com a evolução do homem, fomos aprimorando nossas técnicas de agricultura e pecuária. Aumentamos nossa oferta de alimento e mudamos a nossa qualidade. Hoje comemos uma quantidade pequena de fibras e uma enormidade de alimentos ricos em colesterol: carne, leite, derivados, todos ricos em gordura saturada. Grande fonte de colesterol. Antes o animal era mais selvagem, muita proteína e pouca gordura. Hoje, não! O carboidrato que era rico em fibras, hoje é quase ausente, como massas, pães, arroz branco. Todos de rápida absorção e sem auxílio na redução da gordura ingerida.
Além disso, falávamos de expectativa de vida de 30 anos. Não morríamos de doenças do coração, de câncer. Com o aumento da expectativa de vida, algo que era fundamental para saúde, passa a não ser mais. Se existisse um jornal da idade da pedra estaria escrito “Coma gordura animal: boi, frango, ovo, frutos do mar (mariscos, ostras, camarão, lagosta), lembre das vísceras e do leite, pois ele é rico em colesterol, essencial para a vida”. Ainda concordamos com a última frase, e que você também deva comer esses alimentos, mas não precisa ser tanto! Hoje, com a expectativa de vida aproximando-se dos 80 anos, esse excesso de colesterol é, com certeza, prejudicial.
Mas cabe ressaltar que nem todo o colesterol é ruim, e que mesmo pessoas com colesterol elevado podem não ter doenças relacionadas. O HDL (colesterol bom) quando alto, traz um maior benefício, pois ele tira a gordura das artérias, enquanto o LDL coloca a gordura nas artérias. Assim, o colesterol alto pode não ser ruim (se ele for cheio de colesterol bom). De outro lado, uma mesma quantidade de colesterol pode agir de forma diferente. Se tivermos uma pessoa sedentária, obesa, tabagista com LDL de 130 e um outro indivíduo com mesmo LDL de 130, mas movimentando-se pelo menos 30 minutos por dia, comendo frutas, verduras, legumes (fonte de fibras) e com peso ideal, o LDL do primeiro levará muito mais gordura para artérias que o segundo.
Para responder a pergunta, devemos tentar eliminá-lo pois hoje somos um “imã” de colesterol. Onde vamos, ele está presente em nossas vidas, e não fomos preparados para isso.
Reduzir o consumo de carne, preferir um peixe, trocar o leite integral pelo desnatado, consumir outros tipos de óleos como os vegetais (excluindo o de dênde), aumentar o consumo de oleaginosas como as castanhas, nozes e afins. Comer fibras, preferir alimentos integrais, comer uma salada verde junto com a refeição. Evitar congelados, embutidos, industrializados. Trazer o “neandertal” que vive dentro de você.
Assim, talvez o colesterol não seja o vilão e sim um anti-herói, que apesar dos malefícios, tem sim a sua utilidade. E que podemos sim, mudar e melhorar sem grandes sacrifícios. Mas se apesar disso, ele ainda te importunar, lembre que talvez não seja sua culpa, fomos feitos para produzi-lo. Procure um médico para te orientar.
